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quarta-feira, 30 de março de 2011

Obrigado Bolsonaro!

    
          Confessesso que fiquei surpreso com a repercussão nacional das declarações do Deputado Bolsonaro no CQC. Diversos parlamentares do nosso Congresso mostravam um contorcionismo raivoso diante da sua postura dita homofóbica e racista. Rápido alguns exigiram punição imediata, cassação, retratação, prisão. Só faltou um pedido de fuzilamento. Ora, esse Deputado é conhecido pelas suas manifestações ultraconservadoras e pela linguagem que usa, sem medir palavras. Houvesse uma postura inteligente e o deixariam falando sozinho, sem comentários. É a melhor punição que poderiam aplicar-lhe. Ao contrário, foi promovido pela tamanha importância que deram ao caso. Enquanto os diretores do CQC estouraram uma champanhe comemorando a divulgação do programa. Quem não viu está em busca da gravação, todos querem conferir. Que golaço! Inadmissível! É a palavra que mais sai da boca de muitos deputados, como constatei. Mas gostaria de ver o outro lado do caso: a capacidade de um fato provocar irresignação e reação imediata. Maravilha! Isso mostra que há, na sociedade, grupos capazes de se expressar com contundência. Se Deus escreve certo por linhas tortas, os que foram capazes de se levantar indignados talvez sejam capazes de reagir da mesma forma diante da corrupção, da internacionalização do país, dos péssimos serviços de saúde, educação e segurança, capazes de reformar o Código Penal para acabar com a IMPUNIDADE! Isso Bolsonaro: fale na tribuna defendendo a prisão dos homossexuais, dos negros, dos judeus, dos drogados, defenda a pena de morte para os corruptos, defenda uma nova ditadura, cause um alvoroço nacional para que acordemos do nosso narcisismo e nos indignemos todos, por fim, para enfrentar os verdadeiros males do país. Ainda quero ver um congressista com a mesma coragem para denunciar a corrupção e voltar a defender o nosso país de verdade, já que fecham os olhos para outros fatos inadmissíveis, como entregar nosso petróleo às empresas estrangeiras através de um "decreto" que modifica a Constituição (sic). Quero ver a coragem de reformar o código penal sem "arremedos"! Isso eu espero de verdade! O mal, quando manifesto, causa aquela dor que é acompanhada da dimensão do bem que acorda na consciência. Há uma bipolaridade em tudo. Então que esse estereótipo do conservadorismo continue a vociferar até que acordemos para as grandes responsabilidades que ainda não assumimos.

Em defesa do BBB

          Pois meus amigos, confesso que não estou junto com aqueles que jogam pedras no BBB. Para quem faz uma leitura do programa, buscando entender o porquê de tanta audiência, acabará descobrindo que há muito mais do que a pretensa "superficialidade", junto às banalidades sexuais e outras coisas. Não sei se acerto (aliás, há tempo não me preocupo mais com isso), mas penso que as pessoas gostam porque de alguma forma se vêem ali, participam virtualmente como se estivessem jogando, gostam de acompanhar como as pessoas se revelam com as suas idiossincrasias, nos seus relacionamentos e, também, porque de alguma forma exercem poder, quando votam para eliminar alguém. Que oportunidade, hein? Tal como um torcedor nas arquibancadas do estádio: pode xingar o juíz, pedir uma substituição, chamar o técnico de burro. Podem também sonhar, encarnando um deles ou torcendo para alguém. Há muito ali, aquelas "trivialidades" que os intelectuais odeiam, como odeiam as músicas populares por dizerem a verdade, como "o mais importante de tudo é o amor", "sem você eu não seria ninguém", etc. O BBB é uma máquina de dinheiro que deu certo. Diverte e entristece ao mesmo tempo, como as pessoas gostam, como as pessoas são na vida real. A Globo se lambusa em mihões faturados a cada rodada de telefonemas, sem contar com o resto do bem montado marketing. E nós pagamos. Fosse a pretensa "porcaria", não pagaríamos e o projeto não decolaria. Dez anos faturando. A Inglaterra tentou uma alternativa "inteligente e intelectualizada" e foi um redundante fracasso. Respeitemos os que assistem. Não integro aqueles que se acham no direito de substituir o povo e decidir o que é bom ou ruim para êle. Seria muita arrogância, muita prepotência. Aliás, cutuquei um amigo "hiperirresignado" perguntando por que não mudava de canal, ao invés de assistir para alimentar a própria revolta? Disse-lhe que há canais ótimos como alternativa. Surpreendi-me quando constatei que jamais sintoniza a TV Educativa, não lembra de nenhum "Canal Livre", não vê o "Roda Viva", tampouco algum ótimo documentário da "TV Escola", só para citar alguns entre os canais abertos. Discutir a ditadura da mídia no Brasil, é outra coisa. Esse cartel formado pelas quatro maiores emissoras e seus compromissos internacionais, é assunto sério. Somos privados, é verdade, da esplêndida arte produzida em outros lugares. Há um dirigismo cultural inquestionável, capitaneado pela Globo, onde jamais assistimos um filme Austríaco, Húngaro, Romeno, Polonês, Russo e de tantos outros países, como se vê na Europa, onde a legislação garante o chamado "pluralismo estético". No Brasil isso não acontece, a própria legislação permite o autoritarismo cultural. Para democratizarmos as comunicações, então comecemos a democratizar a legislação e o poder legislativo, através dos nossos deputados. O judiciário também. Acredito que essa audiência do BBB reflete o nível cultural e de exigência das pessoas. Mais educação, mais cultura e as coisas se modificam. Também não gosto da Globo, mas a penalizo não lhe dando audiência quando não me convem. Essa é a única forma de combatê-la, por enquanto, até que consigamos por algo melhor em seu lugar. Essa mudança dependerá das próprias mudanças no seio da população. Não posso imaginar o que seja bom ou ruim para os outros, o senso comum vai decidindo. Como dizia Voltaire: "Não concordo com uma só palavra do que dizeis, mas defenderei, até à morte, o vosso direito de dizer."

sexta-feira, 25 de março de 2011

A "Deforma Política"

          Estou acompanhando as discussões sobre a pretendida reforma política. Discutem o financiamento de campanha, os direitos à representação e a forma de eleição. Transparece claramente que o resultado final será a prevalência dos interesses dos maiores partidos. Uma oportunidade rica para inovarmos e avançarmos na construção de uma democracia exemplar para o mundo está sendo desperdiçada. Culpa nossa, quando elegemos nossos representantes e depois delegamos a eles todo o poder de decisão em nosso nome, permanecendo em casa passivamente. As raizes dos males da nossa política não emerge nas discussões. Sobre o financiamento público ou privado, tanto faz o que aprovarem: não eliminará os desvios e corrupções porque simplesmente não estão reformando o código penal. Não há estrutura capaz de fiscalizar e impedir que, mesmo com financiamento público, os privados interfiram. Aliás, pagar os partidos com dinheiro público é, sim, enfraquecê-los. Éramos muito mais dinâmicos e idealistas quando construíamos partidos com o amor à camiseta, sem favores de ninguém. Pague-se os partidos e estarão mais mortos, com uma burocracia bem montada administrando "o belo dinheirinho que vem de graça". Mais corrupção interna nas nossas siglas. Quanto ao direito à representação, com ou sem cláusulas de barreira (que aliás já existem através do quociente eleitoral), nenhum número de partidos atrapalha qualquer democracia. Na Itália há mais de mil siglas, mas naturalmente os eleitores as selecionam, afunilando em meia dúzia que efetivamente decide.
Problemas de eficiência e eficácia do processo político nos parlamentos, são resolvidos através do próprio regimento interno, sem necessidade de legislação específica.  Não pode haver nenhum tipo de cerceamento na construção democrática, na garantia das liberdades civis, uma conquista liberal preciosa. Contudo, um dos pontos que causam maior polêmica diz respeito às coligações e à forma de eleição: proporcional, distrital ou mista. Aqui celebra-se de forma invejável o conservadorismo, tanto de direita como de esquerda.
Não discutimos a essência da representação da sociedade, mas mudanças dentro do jogo já posto. Estamos, por exemplo, perdendo a oportunidade de fortalecermos a federação (somos na Constituição, uma "República Federativa"). A legislação centralizada não confere a autonomia nem respeita as diferenças culturais dos entes federados: os Estados. Poderiam simplesmente discutir e aprovar o número de representantes de cada um, deputados federais e senadores, permitindo de cada Estado decida como quiser escolhê-los. Qual o problema? Também poderíamos modificar a composição da representação, permitindo que Universidades, SBPC, OAB, Centrais Sindicais, etc., tivessem assentos no Congresso através de representantes eleitos em processo interno regulado. Melhoraríamos a inteligência e a competência do Parlamento pois, hoje, um cientista político de renome, um físico, um especialista ambiental, etc., seguramente não se elegeria disputando com os "Tiriricas" da vida. A Itália, por exemplo, mesmo que timidamente, garante a presença de algumas figuras de notório saber. São os "Senadores Vitalícios". Um Norberto Bobbio, aqui, jamais integraria a representação. Que novidade exemplar daríamos ao mundo e que avanço promoveríamos na política brasileira! Por outro lado, não discute-se outro ponto que merece atenção fundamental: a transformação das siglas de agremiação partidária a instrumentos de mandatos individuais, pura e simplesmente. Os programas dos nossos partidos são caricaturas de ideais que não são nem conhecidos nem respeitados. Questione-se qualquer representante partidário sobre a natureza programática do seu partido e a coerência das suas posições no exercício do mandato e terás um belo programa do CQC. Não é culpa de ninguém, é simplesmente o descompasso entre o novo comportamento coletivo e as velhas fórmulas de organização e prática das idéias partidárias. Isso precisa ser atualizado. Sobre as coligações, é ridículo o que a comissão aprovou: fim das coligações partidárias nas eleições proporcionais. Atende, oportunisticamente, os interesses dos maiores partidos, mas desrespeita a própria sociedade. Os partidos políticos não são figuras geométricas nitidamente diferentes como triangulos, retângulos, circulos ou poliedros. São forças políticas que reúnem a objetividade e a subjetividade presentes na população, havendo movimentos que, a cada eleição,cria algumas coincidências ou divergências entre elas, justificando ou não alianças. O mesmo argumento para impedir as coligações proporcionais se, aplicado aos executivos, criaria o desastre político: um só partido deveria gerir a coisa pública, sem a coligação administrativa. Mas como separar a ação política durante a eleição da gestão após, e vice versa?
Ora, buscando o ótimo não conseguimos o bom. Numa democracia, é inevitável a consolidação de vários partidos e, em consequência, nenhum garante a maioria isoladamente. Haverá coincidências programáticas e de interesses entre partidos diferentes, o que justifica a coligação num momento eleitoral, podendo não se justificar em outro, com as mesmas siglas.
          Não busquemos a perfeição se não quisermos nos tornar mais imperfeitos.
          O importante é que nos expressemos em maior numero possível, para uma verdadeira reforma política, pois, assim como andam as coisas, teremos apenas mais uma "Deforma Política."

quinta-feira, 24 de março de 2011

A celebração da sujeira

          Pois confesso que mais uma vez senti-me ofendido por uma decisão judicial que, mesmo amparada em lei e na Constituição, esconde toda a proposital vulnerabilidade do nosso Código Penal. O voto do Ministro Fux é incontestável se tivessemos como princípio o positivismo nos julgamentos, ou seja: está na Lei respeite-se. É correto num país que pretende organizar-se com justiça. Ocorre que os julgamentos do "Supremo" não são assim, ora são positivistas ora são políticos, de acordo com as "circunstâncias". O todo poderoso Supremo foi político quando votou pela entrega do território brasileiro às ONGs internacionais lá em Roraima, onde estão enterrados mais de um trilhão de dólares em reservas de minerais estratégicos. O pretexto - proteger os índios - foi tão absurdo como o discurso do Obama ao afirmar que a invasão da Libia é para "proteger os civis". Sabia perfeitamente o nosso "Supremo" dos interesses internacionais em Roraima e mesmo assim votou como votou, quase provocando uma crise militar a partir da indignação do General Heleno que, não houvesse mostrado a indignação militar, teria havido a entrega pura e simples daquela área repleta de americanos, ingleses, franceses, holandeses e outros mais. O questionamento que emerge das decisões é o seguinte: correta a decisão "positivista", que judiciário age na condenação dos crimes cometidos pelos enquadrados na "ficha suja"? Como a nossa legislação é permissiva ao ponto de condenados por "colegiados de juízes" poderem disputar livremente eleições, alcançarem a eleição a partir dos votos sujos de eleitores sujos e exercerem livremente seus mandatos? Por que não há iniciativa do próprio Judiciário em propor mudanças no código penal e trancafiar quem deveria estar pagando por suas faltas ao invés de mascarar uma representação que enlameia a própria construção democrática? Como o próprio Supremo explica a dupla condenação do Casal Capiberibe pelo mesmo crime que, pelo que o processo demonstra,  não cometeram? Se o Supremo optou por seguir o positivismo, doravante deverá abandonar sua sanha legiferante pois, pelas suas práticas, substitui a tudo e a todos. Como cidadão, recebo essa farra da impunidade como mais uma ofensa. Quizesse a justiça funcionar de verdade, tomaria a decisão que tomou mas impediria por outros caminhos a presença dos condenados no Congresso. Não há base constitucional para isso?  A impunidade está alcançando níveis tão absurdos no Brasil, que temo acontecer aqui o que acontece no mundo árabe: o povo explodindo com sua irresignação. Depois será tarde demais para lamentar, pois toda celebração da sujeira termina muito mal.

segunda-feira, 21 de março de 2011

João Ribeiro de Barros:um grande exemplo esquecido.

          Eu acredito que um país funciona melhor quando os grandes exemplos são lembrados e seguidos. Pois no dia 04 de abril os poucos brasileiros de memória celebrarão o 111º aniversário do nascimento deste grande brasileiro: João Ribeiro de Barros. Nascido em Jahú-SP, em 1900, entusiasmou-se com a aviação, ainda jovem,  numa época em que o Brasil pouca ou nenhuma importância dava ao assunto. Havia, na década de 20, uma ferrenha disputa entre as potências da época pela primazia de realizar a primeira travessia do Atlântico sem escalas. Dezenas de pilotos da Inglaterra, França, Alemanha, EUA e Itália - os principais competidores, estão enterrados no oceano devido às frustradas tentativas. Aquilo equivalia a algo como chegar a Lua. Pois o feito acabou sendo brasileiro. João Ribeiro de Barros estudou engenharia nos EUA, estudou aviação e mecânica de aviões a fundo, navegação aérea, até partir para a Europa para tentar a proeza. Incrível a sua determinação: enfrentou a sabotagem italiana, quase caindo na Espanha; traição de co-piloto que, subornado lhe abandonou, ficara doente de malária quase falecendo, pressionado pelo presidente Washington Luiz para que desistisse da tentativa (aliás, sua resposta àquela ameba presidencial foi uma pérola: "Presidente: ocupe-se dos afazeres do seu governo e não se meta em assuntos dos quais sua Exa. nada entende."). Reconstruiu um avião italiano "Savoia Marchetti", superado,que comprara (os italianos negaram-se a vender-lhe o que tinham de melhor) e acabou fazendo um mais avançado ainda. Enfrentou tempestade na partida, falha de motor e, mesmo encharcado até o pescoço junto com sua tripulação levou a cabo a grande proeza: atravessar o Atlântico sem escalas. Seu feito provocou júbilo popular no Brasil, EUA e na própria Europa, com milhares de pessoas saindo às ruas em celebração. Recebeu as mais altas comendas da Alemanha, Itália, França e outros países. Foi a primeira travessia, realizada em 1927, um marco mundial na aviação. Pois esse exemplo de heroísmo e determinação foi esquecido no Brasil, ao invés de constar até hoje nos currículos escolares, exatamente onde a História deve cumprir um de seus papéis mais importantes: a educação pelos exemplos, acordando sentimentos e mostrando  que somos capazes de tudo quando não recuamos diante de dificuldades. João Ribeiro de Barros faleceu em 1947, seu avião encontra-se num museu em SP, intacto.
          Gostaria que os amigos abrissem a Wikipédia, com seu nome: os relatos estão lá com detalhes.
          Se nosso país revivesse fatos como esse e trabalhasse seus exemplos, seríamos outra nação.
          Particularmente, vivo embuído do seu espírito e abandonei muitos dos velhos medos que atrapalhavam a minha vida.
          Em tempo: nossas escolas falam de Charles Lindberg que, poucos meses depois do nosso João, fez a primeira travessia do Atlântico num vôo solitário. A primeira travessia sem escalas é feito brasileiro, reconhecido internacionalmente. Mas não comentamos...

quarta-feira, 16 de março de 2011

Jovens de ontem e velhos de hoje.

     Pois confesso aos meus amigos que estou de saco cheio de tanto ouvir que "a juventude de hoje é um bando de drogados", que não quer nada com nada, que odeiam o trabalho e coisas do gênero. Também não suporto aquela história de que "no meu tempo sim é que tinha música, não as barulheiras de hoje." Ora, nós somos da geração do Rock, amávamos e amamos os Beatles e os Rolling Stones, tomávamos uns porres "federais" e dizíamos: "é uma brasa, mora!". Não falo das nossas transgressões, creio que deixaríamos os jovens de hoje envergonhados, pois fazíamos tudo enquanto negávamos ao mesmo tempo. Tá certo que fomos capazes de enterrar a carcomida sociedade dos velhos e repressivos costumes, mas não vejo glória nenhuma nisso: cada geração deve superar a anterior e deixar o mundo um pouco melhor, ao menos. Essa é a grande missão de cada época e acredito que todos a cumprem de uma forma ou outra. Talvez esses decrépitos velhos não suportem a autenticidade dos jovens de hoje, capazes de assumirem tudo sem a nossa hipocrisia de antes. Escancaram o amor sem rodeios e...negam, sim, aquele velho e fatigante trabalho da "nossa" época, quando morria-se mais cedo rebentado como um burro de carga em troca de um salário de fome. São mais inteligentes, não entram em "frias ideológicas" e qualquer movimento que venham a fazer será fruto de sua própria elaboração e não dos nossos fracassados conselhos. São, também, mais criativos: não há semana em que uma novidade não esteja sendo lançada mundo afora, tornando a nossa vida melhor. Recusam a exploração que nós pacientemente suportamos e têm, hoje, a coragem que não tínhamos: "demitir a empresa" que não lhes respeita. Drogados houve em toda a História, mas não tomemos a regra pela exceção. Nós também morríamos de cachaça e cigarro. Mas a maioria segue em frente, com aquelas virtudes que pouco percebem: receber o velho mundo e tocá-lo adiante. Fico feliz assistindo o que essa "gurizada" é capaz de fazer a agradeço por continuar vivo para testemunhar muito mais. Velhice, meus amigos, é parar no tempo antes do tempo. Pena que muitos estejam assim. Eu opto por manter minha cabeça sempre acesa e assim pretendo morrer, como (perdõem a comparação) Galileu: suportando repressões mas criando e melhorando o mundo.
Que acordem para as maravilhas da juventude, aprenderão a envelhecer melhor.

sábado, 12 de março de 2011

Nós e o "Estado"

     Em "As Origens da Família, da Propriedade Privada e do Estado", Engels define o Estado como "a expressão jurídica da classe dominante". Analisando a evolução da sociedade, das suas formas de organização até o século XIX, fortemente apoiado na antropologia de Morgan, legou-nos um clássico magistral. Marx e Engels desnudaram aos povos os segredos da dominação e da opressão, permitindo que milhares pelo mundo afora encontrassem um rumo para sua organização e libertação. O Estado, então visto como um mal, tornara-se o inimigo a ser destruído através de inúmeros movimentos, com a predominância do anarquismo naquele século, com Bakunin à frente. As concepções anarquistas, socialistas e comunistas se multiplicaram, cada qual com seu entendimento sobre "como dissolver o estado" e libertar os povos do seu jugo. No centro das divisões, dois caminhos claros: revolução ou reforma. Anarquistas de Bakunin e comunistas marxistas seguiam o rumo da insurreição de classe, a revolução anarquista com a destruição pura e simples de todo aparato estatal e a sua proprietária: a burguesia -  e a comunista com, basicamente, a revolução com certas "etapas", passando pela fase "democrático-burguesa.". Diferentemente, os socialistas seguiam o caminho das "reformas gradativas", impregnados pelas conquistas liberais. Revolução em um só país ou revolução mundial caracterizaram as "terceira e quarta" internacionais, esta última ensaiada por Trotski. A experiência do século passado mostrou, após a revolução soviética, a impossibilidade de se prescindir ou preparar o fim do Estado a partir da revolução em um ou num grupo de países, dada a presença do estado dito burguês, capitalista e forte em outros lugares, como na Europa e EUA. A desculpa teórico-ideológica e geopolítica justificou o fortalecimento do "mastodôntico" Estado Soviético, onde a burguesia controladora do estado capitalista deu lugar a uma nova categoria social: a burocracia partidária que, "teoricamente adestrada" era a legítima representante de todas as demais categorias para comandar a construção do socialismo. A URSS foi, assim, a digna sucessora de Roma no exercício do poder completamente centralizado. Mas, aquela categoria de burocratas logo transformou-se em candidata à classe social e, com todas as deformações administrativas afundou a experiência da construção socialista (aliás, já terminara na Revolta do Kronstad em 1921). Embalava o mundo com uma experiência rica na origem e deformada na evolução. Fim da URSS e fim do sonho para milhões pelo mundo afora. A URSS, amedrontando o ocidente durante a guerra fria, causou-lhe uma reação responsável pela sua vitória temporária: apressou enormemente o desenvolvimento científico e tecnológico, fundamental para a hegemonia militar. Uma nova revolução que emerge a partir da segunda grande guerra: a científica e tecnológica, multiplicando objetos de lazer e prazer, utilidades inúmeras, que viriam a alterar o comportamente humano de forma radical. Afastada a "ameaça" soviética, presenciamos a exaltação ideológica dos arautos do capitalismo que não vacilaram em criar novos vieses da própria ideologia, como o neoliberalismo, ferramenta  para o assalto do trilionário patrimônio em mãos dos "estados" pelo mundo afora. O fim da URSS garantiu sobrevida ao processo de acúmulo e reprodução do capital em escala mundial, mesmo com as crises cíclicas.
Desmantelou-se a esquerda por todos os lugares que, perplexa, ainda busca a reconstrução de um rumo, agora baseado nos velhos valores e virtudes que lhe deram origem. Os avanços científicos e tecnológicos alteraram, principalmente após 1970, a vida e o comportamento em escala mundial. Mergulhados num consumo assombroso de toda ordem e ávidos pelas novidades tecnológicas, agora estamos conectados em direção a uma aldeia global de verdade, mesmo que, paradoxalmente, os sentimentos nacionais tenham se fortalecido. Integro a cidade, mas minha casa é só minha. Essas transformações radicais trouxeram à luz problemas que não víamos antes: a questão ambiental e a inclusão social nesse novo mundo que não poupará quem não acompanhar a ciência e a tecnologia. E, no campo político, o crescimento das massas, cada vez mais esclarecidas e informadas, sob ideologia única,  ao mesmo tempo em que conflitam com a velha política incapaz de acompanhar o que a ciência e tecnologia alteram. Pelo menos no Brasil. Surge, assim, um distanciamento da população dos partidos que, sem referências teóricas, mergulham no pragmatismo da sobrevivência e, no seu interior, mandatos desconectados dos próprios programas ultrapassados. Cada mandato é uma ilha e a reeleição, o voto, transforma-se num fim em si mesmo. O Estado, cuja destruição é relembrada agora como utopia, permanece, contudo, como o velho instrumento de acumulação de classe, onde os partidos, mesmo ditos de esquerda, agem como instrumentos bem comportados. O Estado de antes é o mesmo Estado de hoje e as conquistas liberais apenas servem como amortecedor para o exercício "combinado" do poder: as mesmas classes e novos-velhos instrumentos: partidos e burocracia de ministérios e estatais, onde as corporações aliadas conseguem o seu quinhão. A população, o cidadão, permanece impotente diante dos novos e velhos atores: empresas de telecomunicações, de energia,  estatais, grupos industriais, agrobusness, bancos e outros, com uma mídia altamente poderosa, especializada e controlada para a produção de comportamentos, opiniões e posições. Nós continuamos longe do Estado, disputando educação, moradia, remédios e salários que conquistamos eventualmente, concedidos para não provocarem o desequilíbrio capaz de promover a explosão do barril de pólvora que se forma com as irresignações. A pergunta que sobra é: qual o caminho? Qual socialismo? Estão os nossos partidos preocupados em reelaborar-se internamente na busca de novas soluções para os velhos problemas, agora com a sustentabilidade presente? Por que temos uma pauta nas eleições e assistimos a outra, diferente, no exercício dos mandatos? Por que o cidadão despolitizou-se das velhas receitas mas não participa para encontrar as novas? Talvez a fase histórica que vivemos seja assim mesmo, como o fermento agindo até que o pão assuma sua forma. Paz, Pão e Liberdade!!!

quinta-feira, 10 de março de 2011

Descobrindo-se um pouco


  • ·         Guardar rancor é optar pela dor e negar a beleza.
  • ·         A soma dos meus erros é igual à minha experiência.
  • ·         Nunca me cansei fazendo o que gostava.
  • ·         Quem se queima com fogo descobre a prudência.
  • ·         Minhas dúvidas sobre mim mesmo foram o começo da minha descoberta.
  • ·         Quanto mais quebrei a cara mais aprendi a pensar.
  • ·         Descobri que quando falava demais acabava não dizendo nada.
  • ·         Nunca entendi o que as mulheres querem de verdade. A cada satisfação, há outra exigência pronta.
  • ·         Levei a sério alguns conselhos, ao contrário da regra. Tornaram-me melhor.
  • ·         Perdi amigos com brincadeiras.
  • ·         De bem com a vida, torno meus descontentamentos motivos para evoluir.
  • ·         Uma das minhas maiores decepções foi descobrir que quando fazemos algo bem feito, criamos inimigos.
  • ·         Nunca fui líder, nunca comandei bem nem a mim mesmo, mas alegrei-me em descobrir que fui boa influência sobre alguns.
  • ·         Quem tenta me fazer de palhaço já me coloca bem acima dele.
  • ·         Não mostrar-se por inteiro não é temor, é uma questão de defesa.

Cacos de mim...



  • ·         Todo poder emana do povo, vai emanando até não restar nada.
  • ·         Quando a juventude se mexe, a sociedade se move.
  • ·         Juventude sem rebeldia é velhice precoce.
  • ·         A honestidade está se tornando insuportável.
  • ·         Toda avalanche termina num profundo silêncio.
  • ·         O ódio dos outros é a medida do teu poder e, a inveja, das tuas realizações.
  • ·         Quase sessenta... olhando os cacos de mim que foram ficando na estrada...
  • ·         Quando paramos de buscar conhecimento e começamos a usar o dos outros, começamos a nos tornar escravos.
  • ·         Tanto quanto o tempo me desmente, me dá razão.

domingo, 6 de março de 2011

Um sonho estranho.


                Sonhei que era um monte de lixo, um acúmulo de material orgânico e inorgânico. Restos de comida, cereais, frutas, legumes e verduras misturados com folhas de papéis desperdiçados – havia folhas em branco misturadas com outras utilizadas e jogadas fora. Latas de cerveja, embalagens de líquidos dos mais diversos, muitos sacos plásticos de lojas e supermercados, velhas CPUs de antigos computadores, teclados, ferramentas velhas misturados com móveis fora de moda embora conservassem dignamente seus materiais. Havia também um espelho, embora velho conservava suas propriedades refletivas com perfeição. A moldura não era mais da moda. Alguns urubus disputavam a parte orgânica enquanto outros sobrevoavam o local, lá na camada de ozônio, digerindo a podridão até que a fome retornasse. No céu, nuvens negras e brancas umas junto a outras, num fenômeno estranho. Pareciam fixas. Alguns porcos, cães e gatos também moviam-se, incomodados pelas formigas, concorrendo com os urubus pelas maiores fatias daquele monte solitário, muito longe da cidade. Alguns lixeiros, seres humanos sobreviventes com os resíduos da cidade, catavam as latas de alumínio, selecionavam móveis e eletrodomésticos, objetos metálicos e componentes plásticos, tudo o que poderia ser reaproveitado ou transformado imediatamente em algum dinheiro. Estranhava, contudo, que todos eles olhavam para a moldura do espelho e o deixavam ali. No fim do sonho, os urubus e os animais haviam consumido integralmente tudo o que era orgânico e os lixeiros desapareciam com o resto. O que era inútil para algum era útil para outro. Remanescia apenas o espelho. Acordei, finalmente, com um sobressalto inexplicável e em seguida dirigi-me à minha sala, onde há um belo espelho. Olhei para sua moldura, tão somente, e não entendi por que ninguém levara aquele do lixo.

terça-feira, 1 de março de 2011

Mais pensamentos


  • ·         Se tudo o que vemos, ouvimos e lemos não nos corrige, então não temos solução e solucionados estamos.
  • ·         Quanto mais avançamos na estrada, mas encruzilhadas encontramos.
  • ·         Perdi muito tempo na vida procurando fora o que já estava dentro de mim.
  • ·         Quem rouba uma galinha hoje, roubará milhões amanhã.
  • ·         Dá mais trabalho ser ocioso do que trabalhar para curtir um ócio depois.
  • ·         Viajar na maionese também vale a pena. A imaginação não custa nada.
  • ·         Encontro mais beleza perdoando.
  • ·         Meu prazer é derrotar-me de tempos em tempos.
  • ·         Um político é uma “lâmina de Möbius”.
  • ·         Amar é também “dar uns cascudos.”
  • ·         Aprendi que a matemática tem tudo a ver com a beleza.
  • ·         Observar tudo, analisar tudo, transformar para melhor. Precisamos desse vício.
  • ·         Justiça e poder judiciário nem sempre coincidem.
  • ·         Todo oportunista é maldoso.
  • ·         O hedonismo político sacrifica o futuro.
  • ·         Se a honestidade é um dever, estamos com uma dívida monstruosa.
  • ·         Belos jardins também escondem cobras, aranhas e moscas...
  • ·         Muito do meu silêncio é um grito.
  • ·         A vida é um aluguel que pagamos ao tempo.
  • ·         Todo prazer é fugaz.