Amanhã retorno ao hospital. Mais cinco dias de quimio. Levarei, como sempre, meus chinelos, meu pijama, meu laptop e meus fantasmas. Meu sorriso também, pois as enfermeiras me aguardam com um carinho exemplar. Não sei porque não homenageiam essas gurias, merecem mais do que as atrizes ou modelos. São as heroínas que não aparecem no Big Brother. Que mulheres fantásticas. Quanta força, equilíbrio e despreendimento pela vida. Como conseguem produzir alegria em meio ao infortúnio de tantos! Taí uma razão que me faz acreditar nas pessoas. Cinco dias em que o futuro desaparece e o passado retorna com lembranças que não me dão chance: algumas lágrimas escorrem pelo rosto e me fazem agradecer pelo privilégio de ter vivido momentos fantásticos. É sempre assim, vivo de 30 em 30 dias com o drama de não saber se no próximo mes conseguirei a medicação que me prolonga no convívio da família e dos amigos. É incrível, mas o amor se torna mais forte. Vejo minha Regiane mais bela e extraordinária, cada vez a admiro mais. Pena que não a tenha descoberto por inteira há mais tempo, merecia muito mais amor do que dei. Penitencio-me. Nós, homens, somos tão cegos que não percebemos nossas esposas, somos tão surdos que não valorizamos suas sábias palavras. São mais a vida do que nós. Loucas para serem amadas e nós...amando tão pouco. São cinco dias daquela pura reflexão que não fazemos na vida normal. É o lado bom disso tudo, pois não há nada totalmente ruim ou totalmente bom; cada fato desencadeia o seu polo oposto.
Sinto a sensibilidade aumentada para com minha Regiane, meus amigos, minha família. Procuro pagar as contas das minhas falhas e não esquecer do "eu te amo", do "oi amigo, que bom te ver", de cutucar velhos conhecidos confessando a saudade. Como o passado é forte!
Cinco dias muito diferentes e, a cada ciclo, saio mais tolerante, mas resignado e um pouquinho mais sábio. Até aquele horrível espantalho, com seu sorriso irônico, não incomoda mais.
É a vida.