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sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

A Pobreza de Ituzaingó

         Estive por uma semana em Ituzaingó, na Província de Corrientes, na Argentina. É uma pequena comunidade que surgiu junto à represa de Yacyretá. Junto a alguns amigos que foram contaminados pelo vírus da pesca esportiva. Lá abundam dourados, piaparas, cacharas, surubins, salmões e outras espécies que fazem a festa dos pescadores preservacionistas. Durante uma tarde, resolvi conhecer um pouco do lugar e comprar - "por supuesto" -, algumas lembranças e presentes para meus familiares e amigos. Caminhando descontraído por aquelas ruas quase desertas, onde não via nenhuma construção de dois pisos ou mais, fui tomado por uma enganosa sensação de pena das pessoas do lugar. Que pobreza - pensava...Parece minha cidade há cem anos atrás. Pobre gente...Mas, aos poucos, algum motivo inexplicado acendeu em mim um outro olhar que se mantinha oculto. Percebi que não havia pressa alguma, nenhum veículo passava em velocidade, nenhum transeunte mostrava alguma ânsia de chegar ao seu destino; as pequenas e simples lojas eram atendidas com simpatia e sem aquele clima chato e intranquilizador dos que esperam pela sua vez. Nenhuma fábrica, nada de fumaça ou ruídos. Uma paz na mais perfeita harmonia com o Rio Paraná que margeia a cidade. Logo comecei as inevitáveis comparações: no Rio Jacuí e Guaíba não tem nada disso, a pesca foi depredada. Os pescadores de lá respeitam a Piracema; os daqui não respeitam nada. A fiscalização de lá funciona; a daqui inexiste ou cobra propina; a comunidade de lá é consciente e respeita as leis; a daqui adora driblar qualquer norma. E...depois de tantas outras comparações, a pergunta: mas quem é o desenvolvido no caso? O cidadão daqui poderia desfrutar de tudo, da mesma forma, houvesse cuidado e preservado nosso sistema fluvial que, diga-se de passagem, é uma maravilha. Mas não: viaja dez horas e leva recursos para lá, onde os "atrasados" deleitam-se com uma beleza natural e uma fartura de peixes invejável.  Ponto para Ituzaingó e sua gente, pobre mas sem miséria e rica em qualidade de vida, muito, mas muito mais do que nós. Saudades de retornar. Fez bem e me ensinou muita coisa.

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