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quarta-feira, 27 de abril de 2011

Minha última partida.

          Pois meus amigos, estou saindo do jogo. Queria jogar os 90 minutos, mas cansei aos sessenta. O Técnico disse que eu poderia tentar acompanhar o restante da partida sentado no banco, se quisesse. Ou pela TV, lá do vestiário. Optei pelo banco, junto aos jovens reservas plenos de energia e vontade de jogar. Fez-me bem, eu senti a volta daquela contaminação que tivera  há muitos anos, quando acreditava que poderia tudo e que de tudo seria capaz. Joguei sessenta minutos mas não parei um segundo. No começo fazia apenas o que o Técnico ordenava mas em seguida não me continha e desobedecia ao esquema tático, tentando uma jogada individual que daria certo, com toda certeza. Errei e acertei, fui vaiado e aplaudido ocasionalmente. Nunca fui desleal com os adversários, minhas faltas somente aconteceram quando buscava a bola, mas os lances são imprevisíveis nesses momentos. Alguns compreenderam, outros não, o que me entristeceu um pouco. Não guardei rancor pois aprendi que com eles acontecia o mesmo.  Mas a partida é assim, mesmo jogando juntos estamos todos separados, cada qual com seu sonho e aquela imensa torcida que tudo vê e tudo cobra. Quando fazemos uma bela jogada, ganhamos aquela glória momentânea, mas quando fracassamos estamos na Arena aos leões. Sentado, ali, recordava dos sessenta minutos e concluí que joguei uma boa partida. Não por um julgamento próprio, mas pela reação da torcida. Tivesse sido especial e sairia ovacionado; fosse muito ruim sairia vaiado. Nem uma coisa nem outra, simplesmente abandonei o gramado sob um silêncio quebrado por alguns aplausos de um pequeno grupo de torcedores que estavam próximos. Claro que imitei uma girafa alongando o pescoço para descobrir: eram meus familiares, alguns velhos amigos de infância junto a outros mais recentes. Foi o que me bastou para olhar para cima e agradecer a Deus por tamanha glória: família e amigos de verdade, lá estavam aplaudindo meus sessenta minutos de puro esforço e garra,  sabiam que eu não tinha nenhum compromisso com sucesso, fama ou seja lá o que parece que estão todos querendo hoje. Simplesmente joguei sessenta minutos como um ser humano qualquer, mas com muita intensidade, pareceram-me bem mais que os noventa normais. Há jogadores que concluem a partida sem jogarem nada, pena. Joguei o que pude e, mesmo sem  poder retornar ao campo, curto a prorrogação anunciada, feliz porque ainda ouço o aplauso da família , amigos e o celular avisa que minha amada está vindo sentar comigo até o final. Valeu, estou feliz por tudo. 

sábado, 16 de abril de 2011

A vitória da doença.

     Há algum tempo pensava que o problema da assistência médica não teria solução. Ouvindo sobre o assunto, desde criança, não testemunhei ao menos a proximidade de atingirmos um patamar de satisfação sobre o que é uma das maiores responsabilidades do Estado e direito dos cidadãos, conforme nossa Constituição determina. Décadas se passaram e a "Saúde" permaneceu como um tema importantíssimo na demagogia dos nossos cantidados, o que explica, em parte, a continuidade do fracasso das políticas públicas. "Saúde e Educação" rende votos, e muito, então que não se resolva. Pensava que em nenhum lugar haveria saída. Descobri, contudo, que em muitos países isso é página dobrada, organizaram de tal forma que apenas integra o cotidiano das pessoas, tranquilas por contarem com toda a assistência necessária durante seus infortúnios. Então a pergunta: o que falta, afinal, por aqui? Recursos? Lembremos da CPMF, proposta pelo ex-ministro Jatene; arrecadava mais de 50 bilhões por ano, suficiente para resolver o problema de Norte a Sul do país. Entretanto, o governo surrupiava esses recursos para cobrir outros rombos orçamentários. Extinta a CPMF e o governo aumentou o IOF, para compensar e, surpreendentemente a arrecadação foi ainda maior. Novamente vieram os desvios, pelas mesmas razões, e permaneceu o quadro vergonhoso que estampa o sofrimento do nosso povo, do Oiapoque ao Chuí, morrendo condenado pela indiferença, a incompetência, a falta de vontade, o desrespeito à vida humana. Hoje falo do fundo do meu coração, por testemunhar isso junto com tantos outros. Não basta que a doença permança no trono junto com a demagogia dos nossos representantes: a indiferença ou a impotência permanece, mesmo entre aqueles em que mais acreditamos. Pois é...as coisas sempre foram assim. Então que vivamos por sorte. Mas as doenças geram outras: a revolta dos atingidos que descobrem que muito poderia ser feito sem custo algum, modificando-se apenas os procedimentos, controlando-se melhor o sistema que em certas situações está atirado às traças. É preciso muito pouca coragem para interferir nos meandros dessa burocracia que trata pessoas como "estorvos" ou "culpados" pela sua condição. É urgente que se tomem decisões para modificar essa supermáquina paquidérmica de um sistema altamente centralizado que não se move a contento. Os mesmos recursos que alegam faltar desaparecem nos ralos da corrupção e do descontrole. escândalos após escândalos e impunidade garantida. Não há um Código Penal sério nem vontade política para corrigí-lo. O que aguardamos pacientemente parece destinado a avançar no tempo, com discussões parlamentares viciadas na busca de "um acordo" que não descontente os interesses privados em luta com os serviços públicos. Aliás, nesse conflito parece inexistir uma decisão firme que resolva o problema, permanecendo o sofrimento dos que necessitam e a morte de milhares diante das indecisões. Nosso Brasil é o território da vitória da doença, da derrota da Saúde, da falta de vontade política diante das possibilidades, da comprovação de que a execução orçamentária põe viadutos e propagandas acima da prioridade da vida. A solução é possível e está todos os dias ao nosso alcance, basta que a vida esteja em primeiro lugar e que os nossos representantes passem a respeitá-la mais, pois as honrosas exceções não são suficientes.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Que tal essa reforma política?

Já que está em curso a discussão no Congresso para aprovar a nova "Reforma Política", dou meus pitacos:

- Fixado o número de representantes no Congresso, cada Estado definirá como fará sua escolha (lista fechada, aberta, distrital, proporcional, misto, etc.). É o verdadeiro princípio federativo;
- O Congresso será unicameral, com maior agilidade no processo legislativo;
- Cinquenta vagas serão destinadas à representantes de Universidades, Instituições e entidades (definidas em Lei) que farão a sua escolha em processo próprio regulado;
- As eleições serão unificadas e com periodicidade de 5 em 5 anos, com notável economia de recursos ao país;
- Os mandatos não serão mais garantidos para todo o período, mas serão revogáveis através de processo definido em Lei;
- Será instituído o portal de transparência para que a população possa acompanhar as despesas do Congresso e o desempenho dos congressistas;
-  Não haverá cláusula de barreira a nenhum partido político, como forma de garantir a plenitude democrática, respeitando-se a vontade popular quanto às intenções políticas;
- Qualquer cidadão poderá candidatar-se a qualquer cargo,  independentemente de pertencer ou não a um partido político;
- Não haverá financiamento público de campanha e serão fixados limites de gastos;
- O Código Eleitoral (reformado) tornará "crime hediondo" o desrespeito às regras eleitorais;
- O Código Penal será reformado antes da reforma política, para garantia da punidade aos faltosos;
- Só poderão candidatar-se cidadãos de "ficha limpa" conforme definido em Lei (reformada, a atual é permissiva).
- Cada Estado deverá descentralizar a gestão orçamentária, criando poderes regionais para decisão sobre a execução orçamentária quanto aos investimentos.

Por aí estaríamos inovando e avançando, não é mesmo? A discussão atual é altamente conservadora.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Yes, we don't can!

          Lembram da famosa intervenção do Obama durante a campanha: Yes, we can!? Pois percorreu o mundo, com sua simplicidade, reacendendo a esperança de milhões de americanos sufocados pela sua impotência diante das mazelas do seu sólido sistema democrático que, como em qualquer democracia, tem um centro de poder absoluto e inacessível ao próprio povo. De brasileiros também, já que continuamos um país reflexo. Sim, nós podemos vencer uma eleição, gritar nos estádios, tuitar para milhares de seguidores, desabafar para todos os amigos, votar e eliminar no BBB, chingar um personagem na novela enquanto assistimos, podemos muitas coisas. Obama assumiu e logo descobriu que não pode (talvez já soubesse disso).  Não pode fechar a base militar de Guantánamo que os EUA mantém na ilha de Cuba, não pode interromper o curso da gastança militar que penalizam os seus contribuintes para manterem o controle do petróleo e outros, não pode decidir sobre a invasão da Libia, enfim, paraece-me que Obama só queria mesmo era ser presidente para repetir Tommaso de Lampedusa, em "O Leopardo": "Mudar para que as coisas permaneçam as mesmas". Só não podemos decidir sobre o que decide a nossa vida. É isso mesmo. Votamos e delegamos aos nossos representantes a procuração para que "eles" e não nós passem a decidir. Então entra em cena o sistema já organizado, que se reproduz na cúpula com seu poder composto pelos maiores interesses privados: Redes de emissoras de TVs, as gigantescas e ditatoriais Teles e  Bancos, as grandes empresas de energia, as megaconstrutoras, distribuidoras de petróleo etc. Sim, este é o poder de fato, que financia nossos parlamentares e depois cobra a devida conta, com juros e correção. Vejam o escândalo da ANATEL, bilionário, a entrega do patrimônio público que poderia ser transformado em solução para o problema da saúde, educação,  entre outros. Mas nós não podemos. Não podemos evitar o aumento dos preços dos combustíveis, não podemos evitar a "roubalheira vergonhosa e inadmissível" das empresas de cartões de crédito e bancos; não podemos evitar que juízes corruptos deixem os grandes assaltantes em liberdade, não podemos modificar o código penal porque o Congresso não quer (os financiadores não permitem); não podemos evitar que o governo crie um imposto para a saúde e não o aplique nela, condenando à morte milhares de brasileiros; não podemos quebrar os monopólios criados em várias atividades econômicas (transporte, distribuição de petróleo), não podemos evitar o assalto às riquezas da Amazônia (eu vi), não podemos e não podemos muito. Yes, we don't can a lot!!! Há tempo percebi o que outros percebem: nossa liberdade e nosso poder vão até uma determinada linha onde não podemos ultrapassar. Dance, coma, viaje, case, compre um automóvel, funde um partido, uma ONG, faça o que quiser do lado de cá. Mas se você der um gritinho ao teu deputado, do lado de lá, pedindo para evitar o aumento da gasolina ou modificar o atendimento à saúde, ou investigar os rombos que grandes assaltos ao patrimônio que sai do nosso bolso, ele te responderá baixinho: não tem como...o esquema aqui é muito forte...se eu gritar eles me aniquilam e lá se vai o nosso mandato. Ou pior: já entrou no esquema, como o Obama, e dirá frases de grande efeito, como: "construir uma vida digna, uma sociedade igualitária, onde nossos corações pulsem com alegria e nossas almas se embriaguem de liberdade"!! Aplaudiremos como aplaudimos tudo o que é belo, mas em seguida voltamos aos nossos lares sem remédio e com as velhas contas a pagar, cada vez mais caras. Simplesmente porque sim, nós não podemos. Poder popular é um mito.  "Yes, we don't can!!!! 

sábado, 2 de abril de 2011

Doentes Privilegiados

          Após assistir ao Globo Reporter de ontem (1º de abril), cheguei à uma conclusão: qualquer doente que consiga assistência médica é um privilegiado. Digo por experiência própria. Há uma semana luto contra a burocracia do IPÊ (o instituto de assistência médica do RS) para continuar meu tratamento. Primeiro negam os remédios (por que são caros) depois negam o uso de ambulatório (a gente acaba se internando) e por fim suspendem tudo, não dizendo das razões. "Parece que foi a auditoria", mas negam-se a informar ao paciente dos motivos. Daí vem o agravamento do emocional, você fica indignado pois descobre que não passa de um número para os que administram o sistema. Não adianta alegar que está em tratamento que não pode ser interrompido, sob risco de agravar a situação. Os tempos são os tempos da burocracia, entravada pelas pendengas com os médicos e hospitais. Junto com o amontoado de "normas" e "procedimentos", necessários mas penalizadores: quando alguma interpretação entende haver alguma irregularidade, a mesma não é corrigida, mas o paciente castigado pela suspensão de tudo. Dane-se, morra, não importa a gravidade, é preciso administrar como uma empresa qualquer, reduzindo custos e ganhando tempo para executar o orçamento. Você se submete e solicita informações que não te dão. Nem sabe quando terá alguma resposta, é o "cozimento em banho maria". Mentem, às vezes, dizendo que enviarão por escrito pelo correio. Nunca chega. É assim que tratam da vida das pessoas. Mas, confesso, sou um privilegiado e resignado após assistir ao programa de ontem. Pobre povo brasileiro, sem dinheiro morre mais cedo enquanto o Governo não decide e não resolve o que realmente é prioritário: a vida ou as obras. Enquanto, tembém, não termina essa briga entre os interesses privados e as públicos na saúde. Muito do péssimo atendimento e desperdício de recursos é patrocinado por grupos interessados em desmantelar a estrutura pública para abrir mercado ao privado. Há criminosos em toda parte. Não é opinião minha, são testemunhos de médicos que vivenciam o cotidiano dos hospitais e postos de saúde. Equipamentos quebrados, sem manutenção, remédios vencidos, sumiço de instrumentos, há de tudo, confirmando que a gestão em muitos lugares torna o sistema mais caro para todos nós. Então é assim: inventam um imposto (CPMF) para resolver a saúde, usam para outros rombos e deixam as pessoas morrendo. Extinguem o imposto e aumentam outro, arrecadando muito mais (IOF) e continua na mesma. Não é mais problema de recursos, mas de definições públicoxprivadas, gestão (com verdadeiras auditorias) e PRIORIDADES. Se há bilhões para a copa, as olimpíadas, o trem-bala, caças etc., isso fica comprovado. Como os índices de aprovação do governo são altos, então pecamos por igual: aprovamos por que não exigimos a solução do problema. Recebo isso como uma espécie de autofagia social: o hábito com os males acaba com a sua aceitação de forma resignada. Quem não está doente, não necessita de atendimento de qualquer natureza, não fica sensibilizado com o problema dos outros. É o comportamento normal. Isso explica, também, os burocratas: não estão nem aí para problemas que estão fora dos gráficos dos indicadores de gestão. Assim como nos AAA, onde um ampara o outro, fiquei deprimido com o que vi, até me recuperar e pensar: o que podemos fazer além de pedir que a "política" encaminhe de vez a questão, como em outros países? Não é utopia, é plenamente possível. Às vezes um fato age como um estopim e rebenta com tudo, resolvendo. Algo como uma criança que cai num poço e emociona o mundo. Eu sonho com um sistema de saúde que respeite a vida dos brasileiros, como sonho que o mesmo aconteça em toda parte. Que a vida dos cidadãos não seja decidida pelos números, mas assimilada como um valor universal: colocada como prioridade, onde quer que seja. Nem sei quanto mais poderei viver, mas confesso a vocês que sinto-me, como disse, privilegiado: essa tortura que me impõem eu acabo resolvendo com meus amigos que me amparam, me defendem, entram na justiça para garantir o que me negam. Já estou acostumado. Caros Luís Augusto Lebsa e Marcelo Uchoa: obrigado pelo vosso silêncio, eu o compreendo. Há um sistema que lhes submete, tanto quanto a mim como paciente.
É A VIDA!
( na noite passada sonhei que todos levantaram das suas cadeiras e tornaram-se proativos na busca de soluções).