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domingo, 6 de março de 2011

Um sonho estranho.


                Sonhei que era um monte de lixo, um acúmulo de material orgânico e inorgânico. Restos de comida, cereais, frutas, legumes e verduras misturados com folhas de papéis desperdiçados – havia folhas em branco misturadas com outras utilizadas e jogadas fora. Latas de cerveja, embalagens de líquidos dos mais diversos, muitos sacos plásticos de lojas e supermercados, velhas CPUs de antigos computadores, teclados, ferramentas velhas misturados com móveis fora de moda embora conservassem dignamente seus materiais. Havia também um espelho, embora velho conservava suas propriedades refletivas com perfeição. A moldura não era mais da moda. Alguns urubus disputavam a parte orgânica enquanto outros sobrevoavam o local, lá na camada de ozônio, digerindo a podridão até que a fome retornasse. No céu, nuvens negras e brancas umas junto a outras, num fenômeno estranho. Pareciam fixas. Alguns porcos, cães e gatos também moviam-se, incomodados pelas formigas, concorrendo com os urubus pelas maiores fatias daquele monte solitário, muito longe da cidade. Alguns lixeiros, seres humanos sobreviventes com os resíduos da cidade, catavam as latas de alumínio, selecionavam móveis e eletrodomésticos, objetos metálicos e componentes plásticos, tudo o que poderia ser reaproveitado ou transformado imediatamente em algum dinheiro. Estranhava, contudo, que todos eles olhavam para a moldura do espelho e o deixavam ali. No fim do sonho, os urubus e os animais haviam consumido integralmente tudo o que era orgânico e os lixeiros desapareciam com o resto. O que era inútil para algum era útil para outro. Remanescia apenas o espelho. Acordei, finalmente, com um sobressalto inexplicável e em seguida dirigi-me à minha sala, onde há um belo espelho. Olhei para sua moldura, tão somente, e não entendi por que ninguém levara aquele do lixo.

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