Pesquisar este blog

sábado, 12 de março de 2011

Nós e o "Estado"

     Em "As Origens da Família, da Propriedade Privada e do Estado", Engels define o Estado como "a expressão jurídica da classe dominante". Analisando a evolução da sociedade, das suas formas de organização até o século XIX, fortemente apoiado na antropologia de Morgan, legou-nos um clássico magistral. Marx e Engels desnudaram aos povos os segredos da dominação e da opressão, permitindo que milhares pelo mundo afora encontrassem um rumo para sua organização e libertação. O Estado, então visto como um mal, tornara-se o inimigo a ser destruído através de inúmeros movimentos, com a predominância do anarquismo naquele século, com Bakunin à frente. As concepções anarquistas, socialistas e comunistas se multiplicaram, cada qual com seu entendimento sobre "como dissolver o estado" e libertar os povos do seu jugo. No centro das divisões, dois caminhos claros: revolução ou reforma. Anarquistas de Bakunin e comunistas marxistas seguiam o rumo da insurreição de classe, a revolução anarquista com a destruição pura e simples de todo aparato estatal e a sua proprietária: a burguesia -  e a comunista com, basicamente, a revolução com certas "etapas", passando pela fase "democrático-burguesa.". Diferentemente, os socialistas seguiam o caminho das "reformas gradativas", impregnados pelas conquistas liberais. Revolução em um só país ou revolução mundial caracterizaram as "terceira e quarta" internacionais, esta última ensaiada por Trotski. A experiência do século passado mostrou, após a revolução soviética, a impossibilidade de se prescindir ou preparar o fim do Estado a partir da revolução em um ou num grupo de países, dada a presença do estado dito burguês, capitalista e forte em outros lugares, como na Europa e EUA. A desculpa teórico-ideológica e geopolítica justificou o fortalecimento do "mastodôntico" Estado Soviético, onde a burguesia controladora do estado capitalista deu lugar a uma nova categoria social: a burocracia partidária que, "teoricamente adestrada" era a legítima representante de todas as demais categorias para comandar a construção do socialismo. A URSS foi, assim, a digna sucessora de Roma no exercício do poder completamente centralizado. Mas, aquela categoria de burocratas logo transformou-se em candidata à classe social e, com todas as deformações administrativas afundou a experiência da construção socialista (aliás, já terminara na Revolta do Kronstad em 1921). Embalava o mundo com uma experiência rica na origem e deformada na evolução. Fim da URSS e fim do sonho para milhões pelo mundo afora. A URSS, amedrontando o ocidente durante a guerra fria, causou-lhe uma reação responsável pela sua vitória temporária: apressou enormemente o desenvolvimento científico e tecnológico, fundamental para a hegemonia militar. Uma nova revolução que emerge a partir da segunda grande guerra: a científica e tecnológica, multiplicando objetos de lazer e prazer, utilidades inúmeras, que viriam a alterar o comportamente humano de forma radical. Afastada a "ameaça" soviética, presenciamos a exaltação ideológica dos arautos do capitalismo que não vacilaram em criar novos vieses da própria ideologia, como o neoliberalismo, ferramenta  para o assalto do trilionário patrimônio em mãos dos "estados" pelo mundo afora. O fim da URSS garantiu sobrevida ao processo de acúmulo e reprodução do capital em escala mundial, mesmo com as crises cíclicas.
Desmantelou-se a esquerda por todos os lugares que, perplexa, ainda busca a reconstrução de um rumo, agora baseado nos velhos valores e virtudes que lhe deram origem. Os avanços científicos e tecnológicos alteraram, principalmente após 1970, a vida e o comportamento em escala mundial. Mergulhados num consumo assombroso de toda ordem e ávidos pelas novidades tecnológicas, agora estamos conectados em direção a uma aldeia global de verdade, mesmo que, paradoxalmente, os sentimentos nacionais tenham se fortalecido. Integro a cidade, mas minha casa é só minha. Essas transformações radicais trouxeram à luz problemas que não víamos antes: a questão ambiental e a inclusão social nesse novo mundo que não poupará quem não acompanhar a ciência e a tecnologia. E, no campo político, o crescimento das massas, cada vez mais esclarecidas e informadas, sob ideologia única,  ao mesmo tempo em que conflitam com a velha política incapaz de acompanhar o que a ciência e tecnologia alteram. Pelo menos no Brasil. Surge, assim, um distanciamento da população dos partidos que, sem referências teóricas, mergulham no pragmatismo da sobrevivência e, no seu interior, mandatos desconectados dos próprios programas ultrapassados. Cada mandato é uma ilha e a reeleição, o voto, transforma-se num fim em si mesmo. O Estado, cuja destruição é relembrada agora como utopia, permanece, contudo, como o velho instrumento de acumulação de classe, onde os partidos, mesmo ditos de esquerda, agem como instrumentos bem comportados. O Estado de antes é o mesmo Estado de hoje e as conquistas liberais apenas servem como amortecedor para o exercício "combinado" do poder: as mesmas classes e novos-velhos instrumentos: partidos e burocracia de ministérios e estatais, onde as corporações aliadas conseguem o seu quinhão. A população, o cidadão, permanece impotente diante dos novos e velhos atores: empresas de telecomunicações, de energia,  estatais, grupos industriais, agrobusness, bancos e outros, com uma mídia altamente poderosa, especializada e controlada para a produção de comportamentos, opiniões e posições. Nós continuamos longe do Estado, disputando educação, moradia, remédios e salários que conquistamos eventualmente, concedidos para não provocarem o desequilíbrio capaz de promover a explosão do barril de pólvora que se forma com as irresignações. A pergunta que sobra é: qual o caminho? Qual socialismo? Estão os nossos partidos preocupados em reelaborar-se internamente na busca de novas soluções para os velhos problemas, agora com a sustentabilidade presente? Por que temos uma pauta nas eleições e assistimos a outra, diferente, no exercício dos mandatos? Por que o cidadão despolitizou-se das velhas receitas mas não participa para encontrar as novas? Talvez a fase histórica que vivemos seja assim mesmo, como o fermento agindo até que o pão assuma sua forma. Paz, Pão e Liberdade!!!

Nenhum comentário:

Postar um comentário