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sábado, 26 de fevereiro de 2011

Como drogar os próprios filhos

          Surpreendente como vejo adultos cobrando excelência de comportamento da juventude, sem antes  perguntarem-se o que deixamos para ela. Vivemos cegos diante de todas as boas lições do passado, permitimos que a corrupção dos vícios, das atitudes, das crenças, de todas as formas, enfim, tomassem conta das nossas vidas. Nos entregamos à pior de todas as corrupções: a idéia de que a realização pessoal depende da fortuna, da fama, da "estabilidade" num concurso público, da ostentação de um belo carro, das "grifes" e tudo mais.Abandonamos por completo qualquer pedagogia orientada à formação moral e ética. Aliás, jogamos tudo isso no lixo. Salve-se quem puder! O mundo é dos mais vivos e os fins justificam os meios. Vale tudo. "Não seja trouxa, meu filho, o maior come o menor, é a lei da natureza, dizemos...E assim fomos sepultando a sociedade do ser preferindo a do ter. Não nos conhecemos mais. Peça a qualquer pessoa para falar de si mesmo e verá a sua grande dificuldade. Pensará muito antes de tentar dizer algo. Cobramos, contudo, o que não somos. Reclamamos dos políticos enquanto enganamos os outros, num narcisismo que chega a ser até bizarro. A escola que deixamos vai na contramão do que esperamos, com os nossos péssimos exemplos. Nossas ruas, outrora bem mais tranquilas, amedrontam. Nunca sabemos se voltaremos vivos para casa. É a barbárie crescendo sem que percebamos. Mas, narcisicamente como em quase tudo, não temos nada com isso, internamente estamos em "ordem". Os outros é que resolvam. O ter suplantou o ser tão desequilibradamente que estamos disformes numa multidão anônima, desorientados, pessimistas e atemorizados. Queríamos o que? Fracassamos com os nossos extremismos ideológicos, encurralamos nossas reservas morais e espirituais em troca de uma competição de "status" doentia e infelicitadora. Nunca teremos o bastante, por mais que tenhamos. Velha lição, mas esquecemos. Grana, grana, fica rico meu filho! Te pela, filhina, tão pagando bem! E assim, furtivamente, o mal toma conta da vida. Um dia seremos cobrados por tudo isso e, comodamente, atribuiremos ao fatalismo, ao "inexorável rumo da História." Os bens materiais tomaram conta da vida e são a nossa grande ambição e como a maioria sempre estará abaixo dos paradigmas "BillGates", a infelicidade desfila triunfante. Erramos na busca do prazer! A vida nos oferece inúmeras alternativas de paz espiritual, de conduta moral, de fontes de prazer que não exploramos. Elas dependem da novas atitudes e busca do outro conhecimento: o de nós mesmos."Conhece a ti mesmo!" - estava escrito nos portais do Oráculo de Delfos. Poucos descobrimos que o retorno a nós mesmos nos leva à satisfações e prazeres incomparavelmente maiores que os bens materiais, quando buscamos extrair o que de melhor está acumulado nas nossas potencialidades. Aí está o vervadeiro segredo, resgatar nossas reservas morais e espirituais como base para a reconstrução individual. Do contrário, estaremos sendo cúmplices desse fracasso e, sem admití-lo, empanturrando a cabeça dos nossos filhos com sonhos que a maioria não pode realizar e, frustrada, se droga para se iludir que alcança.

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